Verdade ou a ilusão do ser científico
Um cientista está em busca de uma explicação para determinado
fenômeno. Ao redor de tal realidade ele olha e contempla como expectador
curioso, deleitando-se do que pensa ser algo sobrenatural. Analisa toda a
estrutura, decompondo-a em partes menores, reflete a respeito de cada
componente e busca meios de como fazer com que seu objetivo, de entender o que
está a sua frente, não seja afetado por sua “subjetividade humana”.
“Possivelmente fosse mais fácil entender esse fenômeno,
se ele fosse uma grandeza física.” Pensou o cientista, mas não, seu objeto de
estudo é uma tribo indígena que está se acostumando com a modernidade. É que os
índios, agora, estão usando internet,
isso assusta o observador e ele quer saber qual é o comportamento dessa tribo
na rede virtual. Quer compreender como se dão as relações desses seres, que são
tão “diferentes” dele.
Para entender tudo o que está acontecendo nessa tribo ele
considera que necessita de algo palpável, pois tem medo que o trabalho por ele
realizado não seja considerado científico, por isso ele busca uma verdade.
Mas qual é a verdade a ser encontrada em um mundo tão
confuso e caótico como o mundo vivenciado pelos homens na atualidade, em que a
realidade é mudada a cada instante. Será que algum cientista político de quinze
anos atrás pensaria que o Partido dos Trabalhadores (PT) iria fazer alianças
políticas com o Maluf? Será que alguém ano passado pensaria na possibilidade de
a China enviar uma mulher ao espaço?
Não há uma realidade, uma verdade, um pensamento correto.
O que há são possibilidades de uma verdade. Michel Foucault em uma palestra
proferida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro[1],
já afirmava que a verdade é uma construção, é um encontro de partes. Então para
que pesquisar, se há o reconhecimento de que não há uma verdade única?
A resposta para tal indagação está, possivelmente, no
fato de que o homem ao longo dos tempos foi gerando discursos para explicar o
que ocorria no universo. Essas falas ao longo do tempo foram ganhando outras
rivais que contradiziam o que havia sido dito anteriormente. Então para
solucionar este problema a sociedade discursiva criou métodos para se aferir a
verdade de um discurso. Com isso, foi criado metodologias.
A verdade, então, seria um produto do método. Aquilo que
passasse por uma metodologia seria considerado verdadeiro. Respondendo, então,
ao questionamento referido anteriormente, a sociedade realiza pesquisas para
poder entrar nesse jogo de discursos, até mesmo por que esse discurso tem que
agradá-la.
Mapa mundi do desenvolvimento |
Por quanto tempo o dizer “mundo desenvolvido” e “mundo
subdesenvolvido” foram lidos nos livros de Geografia? Por que não se lê essas
expressões hoje em dia? A resposta talvez seja por que essas expressões não
agradaram as sociedades que foram denominadas inferiores as outras.
Será, então, que a pesquisa que levou o cientista a fazer
tais distinções foi sem método? Logicamente que não, o que fez esse discurso
não ser aceito, foi ter desagradado tanto a sociedade quanto discurso do
politicamente correto que domina a atualidade.
Retornando ao cientista que está preocupado com a
cientificidade de sua pesquisa com os indígenas, um conselho possível de ser
acrescentado as suas preocupações é que continue tendo muito cuidado com os
métodos, pois eles é que irão determinar a veracidade de sua pesquisa, tome
mais cuidado, ainda, com o que irá ser dito no seu trabalho, pois o seu
discurso tem que ser condizente com o que a sociedade aceita por agradável.
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